2009-11-14

Gita

Esta música do Raul Seixas foi, é e há-de ser sempre um catalizador brutal da minha vida. E é, do inicio ao fim, uma verdade pura que balança entre o quase assustador e o fantástico. É extraordinária, tal como a voz da Bethânia.

"Eu sou a luz das estrelas
Eu sou a cor do luar
Eu sou as coisas da vida
Eu sou o medo de amar"

2009-11-13

Gota d'Água: Uma Tragédia Brasileira


Comprei o livro da peça do Chico Buarque e do Paulo Pontes. Era uma coisa que há muito tempo andava tentada a fazer. Agora já chegou e é só começar a ler. Algo me diz que será uma turbulenta viagem.

Aqui fica um bocado do som da interpretação de Bibi Ferreira da personagem Joana (encenação original de 1977). A gravação começa depois do inicio do texto completo e por isso deixo o texto também, que é absolutamente divinal.



«JOANA
Tudo está na natureza
encadeado e em movimento -
cuspe, veneno, tristeza,
carne, moinho, lamento,
ódio, dor, cebola e coentro,
gordura, sangue, frieza,
isso tudo está no centro
de uma mesma e estranha mesa
Misture cada elemento -
uma pitada de dor,
uma colher de fomento,
uma gota de terror
O suco dos sentimentos,
raiva, medo ou desamor,
produz novos condimentos,
lágrima, pus e suor
Mas inverta o segmento,
intensifique a mistura,
temperódio, lagrimento,
sangalho com tristezura,
carnento, venemoinho,
remexa tudo por dentro,
passe tudo no moinho,
moa a carne, sangre o coentro,
chore e envenene a gordura
Você terá um ungüento,
uma baba, grossa e escura,
essência do meu tormento
e molho de uma fritura
de paladar violento
que, engolindo, a criatura
repara o meu sofrimento
co'a morte, lenta e segura

JOANA
(Vestindo os filhos)
Eles pensam que a maré vai mas nunca volta
Até agora eles estavam comandando
o meu destino e eu fui, fui, fui, fui recuando,
recolhendo fúrias. Hoje eu sou onda solta
e tão forte quanto eles me imaginam fraca
Quando eles virem invertida a correnteza,
quero saber se eles resistem à surpresa,
quero ver como eles reagem à ressaca.
Meus filhos, vocês vão lá na solenidade,
digam à moça que a mamãe está contente
tanto assim que lhe preparou este presente
pra que ela prove como prova de amizade
Beijem seu pai, lhe desejem felicidade
co’a moça e voltem correndo, que eu e vocês
também vamos comemorar, sós, só nós três,
vamos mastigar um naco de eternidade.»

Poeta castrado, NÃO!


Espectáculo de Homenagem
4 de Dezembro, pelas 21h30, no Coliseu dos Recreios, Lisboa

Este espectáculo, que terá lugar no ano que assinala o 35º Aniversário de Abril, contará com a participação de Carlos do Carmo, que interpretará poemas de Ary dos Santos, do pianista Bernardo Sassetti e dos músicos Ricardo Rocha, (guitarra portuguesa), Carlos Manuel Proença (viola) e Fernando Araújo (baixo).

Poeta castrado, não!

Serei tudo o que disserem
por inveja ou negação:
cabeçudo dromedário
fogueira de exibição
teorema corolário
poema de mão em mão
lãzudo publicitário
malabarista cabrão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado não!

Os que entendem como eu
as linhas com que me escrevo
reconhecem o que é meu
em tudo quanto lhes devo:
ternura como já disse
sempre que faço um poema;
saudade que se partisse
me alagaria de pena;
e também uma alegria
uma coragem serena
em renegar a poesia
quando ela nos envenena.

Os que entendem como eu
a força que tem um verso
reconhecem o que é seu
quando lhes mostro o reverso:

Da fome já não se fala
- é tão vulgar que nos cansa
mas que dizer de uma bala
num esqueleto de criança?

Do frio não reza a história
- a morte é branda e letal
mas que dizer da memória
de uma bomba de napalm?

E o resto que pode ser
o poema dia a dia?
- Um bisturi a crescer
nas coxas de uma judia;
um filho que vai nascer
parido por asfixia?!
- Ah não me venham dizer
que é fonética a poesia!

Serei tudo o que disserem
por temor ou negação:
Demagogo mau profeta
falso médico ladrão
prostituta proxeneta
espoleta televisão.
Serei tudo o que disserem:
Poeta castrado não!

Ary dos Santos

2009-11-10

Parabéns meu amor*

Deixo ao Miguel as Coisas da Manhã

Deixo ao Miguel as coisas da manhã -
a luz (se não estiver já corrompida)
a caminho do sul,
o chão limpo das dunas desertas,
um verso onde os seixos são
de porcelana,
o ardor quase animal
de uma romã aberta.


Eugénio de Andrade

2009-11-09

Três Cantos

Volto a ter o privilégio de ter um concerto memorável fotografado por uma grande amiga. E talentosa. Mas desta vez deixo apenas uma foto. A Foto. O concerto foi isto, foi esta expressão que é do Sérgio mas que podia ser minha. E foi, no fim daquele concerto que me encheu a alma.

Dia 22

Já distante. Já saudades. Quem me dera outro concerto daqueles!

Parabéns Mana*



Maninha - Chico Buarque

Se lembra da fogueira
Se lembra dos balões
Se lembra dos luares dos sertões
A roupa no varal, feriado nacional
E as estrelas salpicadas nas canções
Se lembra quando toda modinha falava de amor
pois nunca mais cantei, oh maninha
Depois que ele chegou
Se lembra da jaqueira
A fruta no capim
Dos sonhos que você contou pra mim
Os passos no porão, lembra da assombração
E das almas com perfume de jasmim
Se lembra do jardim, oh maninha
Coberto de flor
Pois hoje só dá erva daninha
No chão que ele pisou
Se lembra do futuro
Que a gente combinou
Eu era tão criança e ainda sou
Querendo acreditar que o dia vai raiar
Só porque uma cantiga anunciou
Mas não me deixe assim, tão sozinha
A me torturar
Que um dia ele vai embora, maninha
Prá nunca mais voltar...

No passado dia 13 de Outubro publiquei num blog um texto que contém algumas afirmações que são ofensivas do bom nome do Senhor Presidente da Câmara Municipal de Évora.
Reconheço que ao ter dado cariz público a tais afirmações procedi de forma pouco ponderada e censurável.
Venho por este meio, e a solicitação do Senhor Presidente, reconhecer o comportamento atrás descrito como errado e francamente despropositado, aproveitando para pedir públicas desculpas pelos incómodos ou prejuízos causados na pessoa do Senhor Presidente da Câmara Municipal de Évora.

2009-11-08

Amigos

Sabê-los lá. Sabê-los perto. Sabê-los bem. Sabê-los felizes. Saber que nos querem bem. Amizades novas mas já fortes e constantes. Olhá-los e a certeza do que fariamos por eles, sem hesitar. Saber que o fariam por nós. As risadas, as parvoices, as conversas de café, a descontracção. E as outras. As mais sérias, os sonhos partilhados, o futuro incerto, os desejos comuns. Amizades que são novas, são frescas mas que já vão sendo sólidas e confessas. "Se morresse amanhã morria feliz por vos ter conhecido". Eu também. Mas prefiro continuar, para trilhar o caminho futuro com a certeza de vos ter ao meu lado. "Que seja infinito enquanto dure", dizia o poetinha falando do amor e digo eu desta nossa amizade, também. Que dure o suficiente para vos ver realizados no caminho que escolheram e vão escolhendo a cada dia.

Um beijo, desta amiga ainda nova e já antiga*

É bom

Eu gosto de comprar cds. Gosto porque gosto de ter a embalagem completa. Quando um músico faz um cd, se for um bom profissional, pensa em tudo. Na música, na imagem e no contexto. Por isso eu gosto de comprar um cd, chegar a casa, tirar o celofane e começar uma viagem. A primeira impressão pela capa. Abrir e ver o interior. Pôr o cd a tocar, abrir o livreto, ouvir os sons e as letras pela primeira vez e deixar que o cd forme a sua história na minha vida. Cada música deixa uma primeira impressão, umas mais fortes e outras nem tanto, como deve ser. E depois, se gostar mesmo do cd, vou ouvi-lo milhares de vezes, dezenas só nos dias que se seguem e a impressão que cada música deixa em mim vai mudando e a sua importância também. Ir ao fundo é todas elas acabarem por fazer todo o sentido, sem excepção.
Sexta-feira comprei o novo cd do David Fonseca, Between Waves. Até agora ainda não parou de tocar ora no leitor, ora no mp3, dependedo do sitio e da ocasião. Está impressionante. Achei que depois de todos aqueles concertos, de todas as supresas ele já não me conseguiria impressionar mais. Não é que duvidasse da capacidade dele, simplesmente achei que fosse humanamente impossível superar aquele nível de criatividade. Este disco motrou-me que para o David não é impossível superar nada. Ele é infinitamente criativo, profissional e apaixonado pela música. Dá gosto segui-lo porque isso transparece em tudo o que faz.
O cd é lindíssimo! Não há nenhuma única música que me tenha passado ao lado até agora e todas elas têm letras e arranjos fabulosos. Mas por agora há uma que me bateu mais que as outras e que passa com mais insistência por estes lados. Não vos deixo a música mas deixo-vos a letra e, se tiverem oportunidade, oiçam-na porque vale bem a pena.


U Know Who I Am - David Fonseca

I've walked through dangers,
I've talked to strangers but they didn't understand
And when the world seems senseless
It's me and you against them
And I love you because you know who I am

All you dreamers keep dreaming
And let does dreams rise into the light
Go find someone who loves you, to live those dreams through
Don't you go and get swallowed by the night
I've walked the stages
I've read the pages and never, I've never reached the end
All the world seems senseless
You're here with me against them
And I love you because you know who I am

Deep inside every soul
There's a sadness on the verge of climbing through
Now don't you try and fix it, why would you do that?

How beautiful when sadness turns to songs


And I'll walk through dangers
I'll dance with strangers but they'll never understand
We'll never be defenseless
We'll win this war against them
Don't you doubt this, yeah I'm sure we can
And who cares if they don't ever understand
And I love you because you know who I am

Arctic Monkeys - Old Yellow Bricks


Rota de colisãO

Lá, entre o Sol e o Si